sábado, 14 de abril de 2012

Leonardo de Carvalho Castello Branco


Projeto aprovado, em 2009, pela Lei. A. Tito Filho, da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, o livro Leonardo de Carvalho Castello Branco será lançado no dia 12 junho próximo, data de falecimento do revolucionário, poeta e inventor Leonardo de Carvalho Castello Branco (1873, no Sítio Barro Vermelho, perto da Fazenda Limpeza, de sua propriedade, no então município de Barras, na idade de 85 anos incompletos). É que, finalmente, depois de dois anos de espera, a Fundação Cultural Monsenhor Chaves está chamando os produtores contemplados na Lei A. Tito Filho para assinarem os seus contratos. A Editora Zodíaco já foi lá com toda a papelada, abriu conta no Banco do Brasil, e só espera a grana cair para levar o livro para ser impresso na Halley. Abaixo, texto de apresentação do livro feito pelo professor universitário (UFPI) e contista Airton Sampaio.

Luz sobre Leonardo 

O livro de Gervásio Santos, Leonardo de Carvalho Castello Branco, agora entregue à leitura de todos, é uma interessante abordagem sobre Leonardo de Carvalho Castello Branco que, como poeta, se assina Leonardo da Senhora das Dores Castello-Branco, o que é amiúde desrespeitado. Gervásio Santos, apesar de tratar de Leonardo como poeta, o faz rapidamente, uma vez que sublinha mesmo é a figura histórica do homem revolucionário, inventor e cientista. 

Este é, na verdade, o Leonardo menos desconhecido, o revolucionário-cientista-inventor. Já o poeta, épico e enorme, ainda está aí a desafiar a compreensão da modernidade, já que, à exceção de Lucídio Freitas, viu a sua poesia, enorme e épica, ser menosprezada, principalmente pela crítica posterior, injusta e até incompetente de Clodoaldo Freitas, que infelizmente rasgou o tempo e até hoje vige como uma espada de Dâmocles sobre uma obra literária que está a requerer a atenção de olhares mais responsáveis, profundos e menos desaparelhados que o de Clodoaldo, que julgou a poética leonardina a partir do próprio fazer literário.

Aliás, a equivocada apreciação do autor de Em roda dos fatos, talvez o mais influente intelectual do Grupo Acadêmico da Geração de 1900 no Piauí, se transformou, no que tange ao poeta de A Creação Universal, na famosa Maldição de Clodoaldo, prejudicando, sobremaneira, uma melhor avaliação da forte poesia leonardina.

Mas, historiador que é, tratar dessa poesia (ainda que lhe reconheça o alto valor estético), não é, neste livro agora dado a público, a preocupação central de Gervásio Santos. Trata ele mais de perto, como já disse, do Leonardo de Carvalho Castello Branco que entrou para a história sem o acomodamento e o apego ao poder característicos da família de que traz o sobrenome, e só esse desvio de conduta de um clã latifundiário e matador de índios já seria uma distinção muitíssimo importante. Mas não. Gervásio Santos mostra que, na tumultuada primeira metade do século XIX, Leonardo deixaria suas pegadas em movimentos contrários a diversas ordens rigidamente estabelecidas - foi independente quando o Norte do Brasil, num desses acordos que até hoje soem acontecer, estava destinado a permanecer sob o jugo português; foi republicano em plena monarquia e partícipe da Revolta de 1824, que ficou mais conhecida na história nacional devido à figura radical (no bom sentido) de frei Caneca; foi cientista e inventor numa época, e principalmente num lugar, plenos de pensamento mágico. 

Não sei se o leitor terminará a leitura mais ou menos apaixonado por essa figura polêmica que é Leonardo de Carvalho Castello Branco. O certo é que não ficará indiferente. E como o que mais dói num autor é a indiferença da recepção, creio que este livro de Gervásio Santos, Leonardo de Carvalho Castello Branco, cumpre bem o seu papel: iluminar, um pouco que seja, a escuridão adredemente forjada em torno desse homem impetuoso e barroco que é Leonardo, um Castello Branco às avessas, como restará demonstrado a quem tiver o prazer de ler.

Valeu, Gervásio!

Airton Sampaio
Escritor e professor universitário